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Carlos Daniel Santos
Escrito por:

Carlos Daniel Santos Mestre em Medicina, Licenciado em Saúde Ambiental e em Radiologia e investigador na área de Saúde da Mulher

Suplementos alimentares: antes e durante a gravidez

A suplementação na gravidez define-se como a utilização de doses previamente definidas de micronutrientes, geralmente sob a forma de comprimidos, em pessoas que possuem o diagnóstico de deficiência nutricional, ou que se encontram em determinados grupos de risco (como é o caso das grávidas). Os efeitos de deficiências nutricionais poderão levar a vários problemas de saúde, tanto para a mãe, como para o bebé, e com a suplementação na gravidez a probabilidade de esses problemas de saúde ocorrerem diminui.

Porquê tomar suplementos alimentares?

Existem vários problemas de saúde que podem afetar a grávida e o bebé, no decorrer da gravidez, por défices nutricionais, nomeadamente de ácido fólico, iodo, ferro, vitamina A, cálcio ou zinco. Atualmente, a Direção Geral de Saúde recomenda apenas a suplementação de ácido fólico, iodo e ferro a todas as grávidas, sendo que nos casos em que forem detetados défices de outros nutrientes, as grávidas devem receber o suplemento correspondente.

Ácido fólico

O folato ou ácido fólico (vitamina B9) desempenha um essencial na multiplicação celular e no crescimento dos tecidos. O défice de ácido fólico está associado a defeitos do tubo neural no bebé, nascimento prematuro, deslocamento da placenta, morte neonatal, hemorragia pós-parto e atraso da maturação do sistema nervoso. 

Idealmente, a ingestão de suplementos alimentares deve começar três meses antes da gravidez e mantida até às 12 semanas de gestação. O ácido fólico pode também ser obtido através da alimentação, nomeadamente através de leveduras, trigo, carne bovina, os vegetais de folha verde escura (espinafres, brócolos, ervilhas, as leguminosas, soja, amêndoas e amendoins).

Iodo

O iodo é um dos componentes essenciais das hormonas tiroideias e também de extrema importância para o desenvolvimento do cérebro. O seu défice poderá levar a atraso cognitivo e mental do bebé.

O iodo pode ser encontrado em vários alimentos, no entanto, a sua concentração nestes alimentos depende de vários fatores. Nomeadamente, do teor de iodo nos solos e na água utilizada para a rega, da utilização de desinfetantes iodados e de fertilizantes. Os alimentos que contêm mais iodo na sua composição são: algas, peixe, leite e seus derivados e alguns produtos hortícolas.

Em mulheres com história pessoal de patologia da tiroide, a utilização do iodo durante a gravidez não é recomendada. Assim, a ingestão de iodo deve advir de uma alimentação variada, consumindo os alimentos que já referimos e também, a substituição do sal comum por sal iodado.

Ferro

O ferro é um componente essencial para a produção de glóbulos vermelhos e o seu défice está habitualmente associado a anemia por deficiência de ferro (atinge cerca de 30% das mulheres grávidas com baixo rendimento).

Este défice aumenta o risco de baixo peso ao nascer, parto prematuro e mortalidade neonatal. São exemplos de alimentos ricos em ferro: fígado, costeletas de porco, carnes vermelhas, gema de ovo, salsa, grãos integrais, nozes, castanhas e feijão.

Vitamina A

A vitamina A é um nutriente essencial para o funcionamento normal do sistema visual e também contribui para uma boa função imunológica e da reprodução. Alguns estudos referem a possibilidade de ocorrer cegueira noturna em mais de 5% das mulheres grávidas. No entanto, tal parece ser mais prevalente nos países em desenvolvimento, e pode estar associado à existência de fatores de risco favorecidos pela privação económica e social, tais como uma alimentação pobre, inacesso aos cuidados de saúde ou condições habitacionais degradadas.

Existem fontes alimentares de vitamina A, que garantem o aporte necessário para a grávida, tais como: fígado, ovos e produtos lácteos, frutas e verduras.

Biotina (vitamina B7)

É essencial para a produção de energia, contribuindo para o normal funcionamento do sistema nervoso e na formação da pele, unhas e cabelo. Com uma dieta equilibrada, esta vitamina raramente necessita de suplementação. Podes encontrá-la nos seguintes alimentos: gema de ovo, vegetais frescos, leite, carne e levedura.

Vitamina B12

Nalguns padrões alimentares vegetarianos, nomeadamente nas dietas Vegan, poderá haver um défice de vitamina B12, pelo que está recomendada a ingestão de alimentos ricos nesta vitamina, tais como: peixes, carnes, ovos e laticínios.

Ómega 3 e 6

A alimentação da grávida deve ser rica e variada durante toda a gravidez, incluindo o consumo de alimentos ricos em ácidos gordos Ómega 3 e 6, tais como o salmão, o atum, a sardinha e os frutos secos e cereais (sementes de linhaça e chia). Estes nutrientes contribuem para o desenvolvimento cardiovascular e cerebral do bebé e para uma diminuição do risco de parto pré-termo, especialmente em gravidezes de risco.

Cálcio

De uma forma geral, para mulheres, as doses diárias recomendadas de cálcio são de 1300mg (<18 anos) e 1000mg (19 -50 anos). Uma ingestão acima das recomendações não evita a perda óssea, que ocorre durante a lactação e gravidez. O cálcio pode ser consumido numa grande variedade de alimentos, sendo as melhores fontes: os produtos lácteos. Existem fontes alternativas como as leguminosas, a soja, os frutos secos, os vegetais de folha verde escura, as sardinhas de conserva e os alimentos feitos com farinhas enriquecidas em cálcio.

Zinco

O zinco é um componente essencial de um grande número de enzimas, e desempenha um papel central no sistema imunitário e gastrointestinal.

O défice de zinco está, na generalidade dos casos, associado a fatores de risco, tais como: dietas pobres em zinco ou ricas em fitatos, distúrbios de má absorção (existência de parasitas nos intestinos e a presença de diarreia) e doenças genéticas (acrodermatite enteropática e anemia falciforme).

A biodisponibilidade do zinco está intimamente ligada à composição da dieta alimentar, especialmente à ingestão de alimentos ricos em fitato, sendo que quanto mais fitato se ingerir, menos zinco fica disponível para absorção pelo organismo. Assim, deves fazer uma dieta equilibrada entre alimentos ricos em zinco, como as proteínas animais (vitela, peru), cereais e leguminosas (feijão cozido, grão, lentilhas, amêndoas, amendoins, cajus e grãos integrais) e os alimentos ricos em fitato, como as nozes, farelo, feijão, soja e pão integral.

Quando tomar suplementos vitamínicos?

O ideal será, antes de engravidar, realizar análises sanguíneas para o doseamento de nutrientes como o ferro, ácido fólico e iodo. De acordo com os resultados, o médico poderá receitar a toma de suplementos vitamínicos.

No entanto, é prática comum e recomendação da Direção Geral da Saúde, que todas as mulheres que pretendam engravidar ou grávidas, façam o seguinte esquema de suplementação:

  • Ácido fólico no 1º semestre da gravidez
  • Ferro no 2º e 3º trimestres
  • Iodo durante toda a gravidez e amamentação

Quais as doses de suplementos que devo tomar?

Ácido fólico – 400 μg/dia

As grávidas com história familiar, ou filho anterior com defeito do tubo neural, devem tomar uma dose diária superior (5mg/dia).  Esta dose está também indicada para mulheres com doenças, ou sob terapêutica associadas a diminuição da biodisponibilidade de ácido fólico.

Iodo 150-200 μg/dia

Desde que não existam contraindicações para o fazer, sob a forma de iodeto de potássio.

Ferro – 30 – 60 mg/dia de ferro elementar

Na ausência de contraindicações para o fazer.

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